Se você é daquele nordestino que gostar de saborear a amarelinha na hora do
almoço, já deve ter percebido que o aumento triplicou nos últimos meses. Em Anapurus o preço da farinha em comércio no momento é 7,78, em São
Luis nas feiras e supermercados o preço é 14,00 reais o quilo.
Pinheiro tem a fama de produzir uma das farinhas mais saborosas do
estado. Além disso, é um dos maiores produtores maranhenses. Mas, até
por lá, o quilo da farinha "está custando o olho da cara", como costuma
dizer povo da região. "Essa é biriba. Tá R$ 10,00. Essa comum aqui tá
R$ 8,00", disse o comerciante José de Ribamar Menezes.
Os produtores dizem que é a maior alta dos últimos 20 anos. A
explicação para o aumento está na cadeia produtiva e vários fatores
explicam. Um deles é a estiagem, que começou cedo e se prolongou por
muito mais tempo. Faltou chuva e a mandioca não cresceu o quanto o
produtor esperava.
O produtor Edvan Silva plantou a mandioca em agosto do ano passado.
Como é um plantio mecanizado, esperava colher já em março. Mas a chuva
não veio como ele esperava. "Cheio de esperança. Tava chovendo bastante,
aí depois que eu plantei, a chuva desapareceu. Aí nasceu uma parte. A
outra parte, eu plantei novamente, quando choveu um pouquinho", disse.
Edvan arranca uma maniva para nos mostrar como a raíz se desenvolveu e a
constatação não é animadora. "Aí, ó. Se tivesse a chuva? Se tivesse a
chuva, essa aqui tava boa", lamentou.
Nas casas de forno, os tanques estão quase todos vazios e o número
reduzido de gente trabalhando também mostra o quanto a mandioca está em
falta. Para o lavrador Francisco dos Santos Abreu, além da chuva, falta
gente para trabalhar na lavoura, assistência técnica e incentivo para os
assentamentos. "Antes tinha muito projeto aí. O Incra investiu em muito
projeto. Deu uns dois anos, aí que deu muita farinha, mas depois o
pessoal foi abandonando os projetos", contou.
Segundo o lavrador, é por falta de bons resultados na roça que os
homens da região estão abandonando a lavoura para trabalhar em grandes
obras pelo país a fora. "Tão tudo trabalhando em firma. Os mais novo tão
tudo no mundo. Eu mesmo, os que trabalhava comigo, foram tudo embora",
explicou.
Os lavradores ainda enfrentam outro problema. A chuva alternada com sol
intenso e temperaturas altas favorecem o desenvolvimento de um tipo de
fungo que causa a podridão da mandioca. As que não apodrecem, perdem a
qualidade.
A qualidade da mandioca influencia diretamente no preço da farinha.
Quando ela está boa, a
massa é consistente. O produtor precisa de, no
máximo, 100 quilos de mandioca para produzir 30 quilos de farinha.
Quando caem as primeiras chuvas, a coisa muda totalmente de figura.
Metade da massa se transforma em água. Os produtores costumam dizer que a
mandioca está "degenerada". Com isso, para produzir os mesmos 30
quilos, a quantidade de polpa dobra.
"No verão, a gente bota 100 quilos de mandioca para fazer 30 quilos de
farinha. Hoje, a gente bota uma base 200 quilos de mandioca pra dar 30
quilos de farinha. Aí, a gente perde muito por isso, mas o que a gente
vai fazer? A gente depende da mandioca pra sobreviver e isso vai da
natureza", diz o lavrador.
Porão dos Pirrós é o maior produtor de farinha biriba da região. Na
época da boa safra, que vai de maio até outubro, chega a produzir 30
toneladas de farinha por mês. Agora, a produção caiu pela metade. "Isso é
uma coisa que deixa a gente preocupado. Nós temos hoje três
agroindústria no Porão dos Pirrós, pra nós manter elas funcionando e
vender pra cidade de Pinheiro, Santa Helena, enfim, na baixada e
capital. Estamos usando a pouca que nós temos e tamo buscando nos
povoados que não são assentamentos e também nos municípios vizinhos",
revelou o produtor.
Informações: G1ma e Anapurus Conectado
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